Governador Requião envia mensagem à Conferência Mundial da Paz, na Venezuela

08/04/2008 at 15:36 Deixe um comentário

Joel Benin e Francisco França (Kiko), militantes do PCdoB, são os portadores da mensagem do Governador

Os paranaenses Joel Benin e Francisco França vão apresentar nesta terça-feira (8) em Caracas, na Venezuela, a mensagem do governador Roberto Requião aos participantes da Conferência Mundial da Paz. “Registro nesta mensagem a certeza de que novos tempos descortinam-se na América Latina. Que este encontro ressoe por todo o continente. Que este congresso seja a reunião inaugural de um novo tempo para a cultura da paz”, diz a mensagem de Requião que será lida no plenário da conferência.

Alternativa à política bélica adotada pelos EUA, a conferência que segue até domingo (13), trata da luta pela paz no mundo buscando soluções baseadas no desenvolvimento sócio-econômico, nos direitos humanos e políticos dos povos. Mais de 70 delegações do mundo, com cinco mil representantes, estão participando do encontro que aos países latino-americanos assume fundamental importância após a recente invasão das fronteiras equatorianas pelo exército colombiano com apoio da Casa Branca.

“Não podemos e não nos cabe ser ingênuos. Como vamos lutar pela paz se um país, como os Estados Unidos, gastou até agora US$ 6 trilhões de dólares com a guerra do Iraque?”, diz a mensagem de Requião ao mencionar o estudo de dois norte-americanos, Joseph Stiglitz e Linda Bilmes – ex-consultores do governo Bill Cliton. Eles deram-se ao trabalho de calcular o quanto custou até agora a guerra do Iraque.

“Se com US$ 1 trilhão de dólares, conforme constata o estudo, seria possível contratar mais 15 milhões de professores, garantir assistência para 530 milhões de crianças e financiar as bolsas de 43 milhões de estudantes, imaginem o que os Estados Unidos poderiam ter feito com US$ 6 trilhões de dólares?”, questiona Requião.

Benin e França são membros do comitê organizador do Fórum Social do Mercosul e diretores do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta dos Povos pela Paz). A carta de Requião, segundo Benin e França, é fruto de um debate amplo entre os setores progressistas que se colocam contra a escalada militarista provocada principalmente pela administração Bush e seus aliados no mundo.

Na mensagem, Requião também reforça suas críticas ao neoliberalismo. “Tenho a convicção que as condições para o rompimento com as políticas neoliberais que escravizam, que submetem, que desgraçam o nosso continente e os povos do mundo todo amadurecem a cada dia”, diz o texto.

O texto do governador questiona ainda o pacifismo inocente, convida à reflexão, mas conclama a todos para uma “postura ativa” frente as agressões imperialistas. A carta também convida os participantes da conferência a discutir no Fórum Social do Mercosul, de 26 à 28 de abril em Curitiba, lançado no último sábado (5) na tradicional Boca Maldita, centro da capital paranaense.

“Quero convidá-los para o Fórum Social do Mercosul que será realizado entre os dias 26 e 28 de abril na cidade de Curitiba – capital do Estado do Paraná. Quero ressaltar que o Paraná, fronteira com a Argentina e o Paraguai, nessa tríplice fronteira que tantas preocupações causa ao império, está vocacionado para a integração e para a paz. Temos procurado manter com os nossos vizinhos uma política de aproximação de interesses”, conclama Requião.

“Esperamos que a carta possa contribuir com o debate da unidade entre os povos em Caracas e incentivar sua continuidade no Fórum de Curitiba”, afirma Joel Benin.

Leia a seguir a íntegra da mensagem do governador do Paraná, Roberto Requião, aos participantes da Conferência Mundial da Paz

Companheiras, companheiros.

Registro nesta mensagem da Conferência Mundial da Paz a certeza de que novos tempos descortinam-se na América Latina. Que este encontro ressoe por todo o continente. Que este congresso seja a reunião inaugural de um novo tempo para a cultura da paz.

Lutemos, avancemos, que não temos nada a perder a não ser as amarras que nos mantém atados ao subdesenvolvimento, à desesperança, à margem da vida.

Tenho a convicção que as condições para o rompimento com as políticas neoliberais que escravizam, que submetem, que desgraçam o nosso continente e os povos do mundo todo amadurecem a cada dia.

Por outro lado, é importante reafirmar o que os organismos das Nações Unidas, como a Unesco, proclamam: não pode haver paz sem desenvolvimento, sem a eliminação da pobreza e da miséria. Não pode haver paz sem uma educação que forme cidadãos para vida. Não pode haver paz sem uma distribuição eqüitativa dos recursos do planeta, sem distribuição de renda e de riquezas, sem a garantia de condições mínimas de acesso à cidadania plena, e sem a eliminação do enorme abismo social que separa os ricos e pobres no mundo.

Hoje, estamos vivendo um momento muito favorável para a as lutas dos povos e nações da América Latina, pela conquista da soberania, pelos avanços sociais e também pelo aprofundamento de uma verdadeira democracia.

Se, por um lado, o império prossegue na sua política de tentar manter a América Latina como se fosse o seu quintal, por outro lado, é inegável que houve um ascenso das lutas democráticas, das lutas sociais e das conquistas políticas.

Se, hoje temos um conjunto de governos que são antiimperialistas, a existência desses governos é resultado das lutas sociais, das lutas pela soberania.

Se, antes, o encargo de desenvolver a luta antiimperialista era apenas dos povos e das correntes políticas que os representam, nomeadamente as forças de esquerda, as forças patrióticas, hoje essas forças ganharam aliados importantes nos governos eleitos por toda América Latina.

Antes, tínhamos governos vassalos, governos lacaios do imperialismo. Hoje temos governos antiimperialistas. As contribuições atuais desses governos ao desenvolvimento, pela paz, e para o desenlace dessa luta são decisivas.

Hoje, os projetos desenvolvimentistas e de integração continental do Brasil, da Venezuela, do Equador, do Uruguai, da Bolívia, da Argentina, do Chile potencializam muito a luta pela paz que, para nós, no atual contexto, significa integração e soberania.

É muito difícil exercer a paz, a soberania e ao mesmo tempo trilhar a via do desenvolvimento que não seja através de um projeto integrado do ponto de vista continental.

Ainda temos uma outra questão na luta pela paz.

Não podemos e não nos cabe ser ingênuos. Como vamos lutar pela paz se um país, como os Estados Unidos, gastou até agora US$ 6 trilhões de dólares com a guerra do Iraque?

Esses valores, essa assombrosa e vergonhosa quantia não foi calculada, levantada, por alguma organização de esquerda da Venezuela ou de um país do nosso continente.

É um estudo de dois norte-americanos, Joseph Stiglitz e Linda Bilmes – ex-consultores do governo Bill Cliton. Eles deram-se ao trabalho de calcular o quanto custou até agora a guerra do Iraque.

Se com US$ 1 trilhão de dólares, conforme constata o estudo, seria possível contratar mais 15 milhões de professores, garantir assistência para 530 milhões de crianças e financiar as bolsas de 43 milhões de estudantes, imaginem o que os Estados Unidos poderiam ter feito com US$ 6 trilhões de dólares?

Certamente poderiam acabar com a fome do planeta. Ou como escreveu o professor Michael Krätke, em excelente artigo sobre essa questão, teriam podido fazer o saneamento das urbanizações miseráveis, renovar os arruinados edifícios das escolas de todo o país.

O montante, estimado de modo conservador, destes US$ 6 trilhões de dólares equivale aproximadamente ao valor de todas as reservas de ouro e divisas do mundo. Todos os meses, os EUA precisam desembolsar mais de US$ 16 bilhões de dólares em custos correntes para as guerras do Iraque e do Afeganistão, além dos US$ 439 bilhões de dólares do orçamento de defesa.

No ano passado, enquanto o presidente Bush solicitava US$ 200 bilhões de dólares adicionais para sua guerra, ele vetava a aprovação pelo Congresso de um gasto de US$ 20 bilhões de dólares destinados ao saneamento e restauração de escolas públicas.

É essa questão que está em jogo e temos saber como enfrentá-la sem submissão ou covardia. As guerras patrocinadas pela indústria bélica multiplicaram-se. Com uma característica especial: a maioria se desenvolve principalmente no interior dos países, entre grupos sociais, culturais, religiosos, étnicos.

As formas de violência se multiplicaram. Além disso, hoje podemos falar também das guerras surdas da fome, da exclusão, da pobreza, do narcotráfico, da intolerância racial, da marginalização e do preconceito. Estas guerras não matam menos nem criam melhores condições para se construir a paz.

É freqüente também a afirmação de que paz é ausência de conflito. Se nos colocamos nesta perspectiva, idealizamos a paz, pois o conflito é inerente à vida humana. Não há crescimento pessoal sem que passemos por momentos de crise e conflito.

Também no plano social, o conflito é parte da dinâmica de relações e confronto de interesses. Numa sociedade pluralista, o reconhecimento da diferença, em suas diversas configurações passa por processos de confronto social, sem os quais é impossível que o reconhecimento e a conquista de direitos se dêem.

Nesta perspectiva a construção da paz exige uma postura ativa. Não pode ser reduzida a uma cidadania passiva, se é possível chamá-la de cidadania, que se limite aos aspectos formais dos ritos democráticos. Construir a paz supõe ação, respeito pelos direitos humanos, luta não violenta contra tudo que desconhece a dignidade humana, afirmação do estado de direito, articulação entre políticas de igualdade e de identidade, entre igualdade social e diferença cultural.

Certamente as resoluções desta Conferência de Caracas serão um passo decisivo para completar o processo de integração política, cultural, econômica, física e trabalhista em nosso continente. Todo esse processo pressupõe a paz, pressupõe o entendimento, a cooperação internacional, a harmonia entre os países.

Para finalizar quero convidá-los para o Fórum Social do Mercosul que será realizado entre os dias 26 e 28 de abril na cidade de Curitiba – capital do Estado do Paraná.

Quero ressaltar que o Paraná, fronteira com a Argentina e o Paraguai, nessa tríplice fronteira que tantas preocupações causa ao império, está vocacionado para a integração e para a paz. Temos procurado manter com os nossos vizinhos uma política de aproximação de interesses.

No primeiro quadriênio de meu governo promovemos inúmeras missões a países latino-americanos. E recebemos dezenas de outras missões. Buscamos sempre demonstrar que é possível sustentar o desenvolvimento econômico em nossas próprias forças, em uma relação de respeito, de igualdade e solidariedade. Que os nossos interesses se completam, que a competição predatória, que a disputa desleal pode ser substituída pela solidariedade entre os povos.

No plano interno, temos buscado no Paraná, a prática de políticas públicas que se contraponham aos preceitos e preconceitos neoliberais. Desprivatizamos a empresa de água e saneamento, recuperamos a empresa de energia, que pretendiam também privatizar, retomamos a iniciativa estatal na educação, na saúde, na infra-estrutura. Colocamos em execução uma política tributária e fiscal de vigoroso apoio às micro e pequenas empresas. Estimulamos fortemente a geração de novos empregos, de tal forma que o Paraná é hoje o estado brasileiro que, proporcionalmente, mais cria novas vagas de trabalho no país. E iniciamos um fantástico plano de apoio à pequena agricultura, à agricultura familiar.

No Paraná, quando o interesse público está em jogo, não temos medo de romper contratos, de retomar empresas públicas. Não temos medo das agências internacionais ou dos sabujos nacionais que fixam as notas do “risco Brasil” ou que classificam um novo risco, o “risco Requião”.

Pouco se nos dá o temor dos neoliberais. Antes de tudo, acima de tudo, a nossa gente.

Com todas as dificuldades que enfrentamos, com as limitações que são impostas pela política econômica nacional, com a oposição impiedosa da grande mídia, com tudo isso, apesar disso, temos avançado.

Estamos demonstrando que é possível sim um outro caminho. Que a construção de uma sociedade justa, desenvolvida, fraterna, solidária é possível.

Para uma cultura de paz, temos que ter o comprometimento de promover e vivenciar o respeito à vida e dignidade de cada pessoa, sem discriminação ou preconceito, rejeitando qualquer forma de violência. Temos que compartilhar tempo e recursos com generosidade a fim de eliminar a exclusão, a injustiça e a opressão política e econômica. Temos que desenvolver a liberdade de expressão e a diversidade cultural através do diálogo e da compreensão do pluralismo. Temos que manter um consumo responsável, respeitando todas as formas de vida e contribuindo para o desenvolvimento da cidade, do estado, do país, do continente e do planeta.

Uma boa conferência a todos e os esperamos nos próximos dias no Fórum Social do Mercosul em Curitiba.

Roberto Requião
Governador do Paraná

Fonte: http://www.forumsocialdomercosul.org/

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